As exportações de cacau brasileiro registraram um expressivo crescimento de 40% no primeiro semestre de 2024, conforme dados divulgados pelo Ministério da Agricultura. Esse avanço representa não apenas um volume maior de vendas ao exterior, mas também um ganho significativo para os agricultores do país, especialmente do sul, região historicamente dedicada à produção do fruto. O resultado surpreendeu o setor, que vinha de anos marcados por instabilidade e preços voláteis no mercado internacional.
O principal fator para esse aumento reside na crescente demanda global por chocolates premium e produtos com certificação de origem. Nos últimos anos, consumidores europeus e asiáticos têm buscado cacau de alta qualidade, ingrediente fundamental para chocolates artesanais e gourmet. Segundo especialistas do setor, o cacau brasileiro reúne características únicas, como aroma intenso e notas frutadas, o que o torna cada vez mais valorizado entre fabricantes internacionais.
A ascensão do mercado premium mundial tem gerado oportunidades não só para grandes exportadores, mas também para pequenos e médios produtores rurais. Julio Tavares, diretor de uma cooperativa do Espírito Santo, afirma: “Esse novo interesse internacional está mudando a vida dos produtores. Muitos conseguiram investir em tecnologia, melhorar lavouras e agregar valor ao produto.” Ele ressalta que a certificação de sustentabilidade é hoje um diferencial competitivo.
A participação brasileira no mercado externo, que antes era limitada por questões como produtividade e doenças fúngicas, tem se fortalecido com investimentos em pesquisa e inovação. Programas de melhoramento genético e integração de práticas sustentáveis ajudaram a recuperar áreas devastadas pela vassoura-de-bruxa, praga que, no passado, dizimou plantações inteiras em estados como Bahia e Pará. Hoje, a produção está mais resiliente e diversificada.
Além do impacto positivo nas exportações, o movimento de valorização global tem reflexos diretos no mercado interno. O preço pago ao produtor subiu cerca de 25% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Cacau. Isso incentiva novas gerações de agricultores a permanecerem no campo e explorarem o potencial de produção sustentável, o que contribui para a revitalização de comunidades rurais.
Os desafios, no entanto, ainda são significativos. A infraestrutura logística para escoar a produção, especialmente portos e rodovias, precisa de melhorias para garantir maior competitividade internacional. Ricardo Muniz, analista de comércio exterior, destaca que “embora o cacau brasileiro esteja em alta, problemas logísticos podem reduzir margens de lucro e atrasar envios, justamente em um momento de alta demanda global.”
O Brasil, tradicionalmente conhecido como importador de cacau devido ao consumo interno robusto, agora busca equilibrar sua balança comercial apostando em nichos de mercado. Chocolates finos produzidos no país já conquistam prêmios internacionais, enquanto marcas nacionais fecham parcerias com chefs renomados para consolidar o produto nacional no exterior. Isso impulsiona a cadeia do cacau, da lavoura à indústria, promovendo inovação e geração de empregos.
O otimismo dos agricultores do sul do Brasil reflete não só os ganhos econômicos, mas também o reconhecimento de práticas sustentáveis e tecnológicas. Projetos de agrofloresta e agricultura regenerativa, adotados por diversas propriedades, ajudam a preservar a biodiversidade e melhoram a qualidade do solo, fatores essenciais para garantir a longevidade da atividade. Tais iniciativas são valorizadas por compradores internacionais atentos à responsabilidade socioambiental.
Com a tendência de crescimento da demanda e o fortalecimento de tecnologias agrícolas, o setor de cacau brasileiro tem perspectivas promissoras para os próximos anos. O desafio será manter a competitividade e a sustentabilidade ao longo da cadeia produtiva, consolidando o país como referência mundial em cacau de alta qualidade. Para os agricultores, a safra de 2024 marca o início de um novo capítulo de prosperidade e reconhecimento internacional.

