A recente elevação da taxa Selic para patamares recordes tem provocado uma onda de impactos significativos no setor imobiliário brasileiro. Historicamente, a Selic funciona como o principal termômetro dos juros do mercado e, com o seu aumento, o custo dos financiamentos residenciais também dispara. Isso tem levado potenciais compradores a repensarem decisões, buscando alternativas ou adiando investimentos em imóvel, afetando praticamente toda a cadeia produtiva do setor.
Com a taxa básica de juros atingindo 13,75% ao ano, o crédito imobiliário se tornou sensivelmente mais caro. Os bancos, por sua vez, repassaram a alta para as taxas de financiamentos habitacionais, tornando as parcelas mensais mais pesadas para os consumidores. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), houve queda de 22% no volume de empréstimos para compra de imóveis nos primeiros meses do ano.
As construtoras e incorporadoras são diretamente afetadas pelo aumento da Selic. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), nos últimos dois trimestres o número de lançamentos de novos empreendimentos caiu quase 18% se comparado ao mesmo período do ano anterior. Os empresários do setor alegam que a combinação de juros altos e incertezas econômicas está dificultando o planejamento e a execução de novos projetos residenciais.
Além disso, a retração nos lançamentos impacta negativamente o emprego na construção civil, um dos maiores geradores de vagas formais do país. O Sindicato da Indústria da Construção Civil estima que, somente nos últimos seis meses, cerca de 50 mil postos de trabalho temporários deixaram de ser criados. Isso evidencia como o efeito dominó das altas taxas alcança toda a cadeia, da fábrica de materiais ao trabalhador da ponta.
Para os consumidores, o cenário atual exige maior cautela. O consultor financeiro André Moreira destaca: “Com as novas taxas, um financiamento de R$ 300 mil pode ter um aumento de até 30% no valor total pago ao fim do contrato”. Diante desse panorama, muitos brasileiros acabam optando pelo aluguel, aguardando um momento mais favorável para comprar a casa própria, o que modifica a dinâmica do mercado de imóveis residenciais.
O setor de imóveis econômicos, que tradicionalmente é impulsionado por programas sociais de habitação, também encontra dificuldades. Com o financiamento encarecido, o acesso à moradia popular tornou-se ainda mais restrito para as famílias de baixa renda. A Confederação Nacional das Associações de Moradores ressalta que a demanda reprimida por habitação tende a crescer, aumentando a pressão por políticas de fomento e subsídios governamentais.
Por outro lado, há quem enxergue oportunidades nesse contexto desafiador. Investidores institucionais estão atentos à possibilidade de adquirir ativos com preços mais atrativos, na expectativa de valorização futura quando o ciclo de alta dos juros se reverter. Analistas do mercado de capitais sugerem que players com maior liquidez podem encontrar boas ofertas, sobretudo em segmentos comerciais e de imóveis corporativos.
Enquanto isso, o setor imobiliário segue buscando alternativas para manter a competitividade. Incentivos promocionais, parcerias com bancos e a digitalização dos processos de venda têm sido utilizados na tentativa de atrair clientes, mesmo diante das adversidades. A expectativa é de que, com o tempo, uma eventual estabilização ou queda da Selic possa reaquecer as vendas e lançar uma nova fase de crescimento para o mercado imobiliário brasileiro.

